15 de novembro de 2009

A Unidade Monárquica, a União dos monárquicos - Uma premissa essencial

Nem sempre o discurso da unidade, é verdadeiro e sincero.
A unidade será sempre uma consequência natural, perante um objectivo concreto, em que todos os membros acreditam, em que todos nele, estão determinados, em que não há qualquer suspeição sobre a vontade de todos na sua concretização.
Em muitas organizações, os apelos à unidade, são apelos falsos, feitos por aqueles que assumindo as responsabilidades de liderança, não querem ou não podem responder, às pressões de exigência de outros membros.

Os dirigentes agarrados aos seus pequenos poderes e às suas pequenas importâncias, ou aqueles que estão ao serviço de terceiros, têm sempre a tentação de acusar de divisionistas, todos os que levantam questões, todos os que se apresentam numa postura mais exigente.

É uma defesa e são sempre os primeiros arautos da mensagem da Unidade.

É assim essencial, distinguir como se chega á Unidade numa Organização, ou num Movimento.

A Unidade é uma resultante, não dos apelos, mas das condutas, das atitudes, das mensagens e das acções para a concretização do objectivo.
Muitas das suspeições levantadas perante os alegados divisionismos, feitas pelos apelos à unidade, são falsidades, protagonizadas por quem não quer nem sabe responder às exigências dos outros ou dos momentos. Muito mais grave, quando é feita por aqueles que estão numa determinada organização ao serviço de outros ou de outras organizações.

A UNIDADE é essencial e determinante, para a restauração do Regime Monárquico, a UNIDADE como resultante de uma estratégia mobilizadora, a UNIDADE á volta de um projecto credível na sua viabilidade, a UNIDADE motivada pela mensagem coerente e permanente, a UNIDADE que resulta da resposta adequada e do dinamismo, a UNIDADE personalizada pela referência dominante, que no nosso caso é o Rei, D. Duarte de Bragança.

Este esclarecimento, sobre a minha preocupação profunda para com este conceito de unidade, no movimento de restauração da monarquia, é assim um esclarecimento inequívoco para todos aqueles que perante a leitura deste texto, sejam tentados a fazer insinuações ou acusações, com o objectivo de inibir a apreciação e a ponderação, sobre as questões levantadas.

O nosso objectivo, que assumimos com total convicção e determinação, é o de tentar criar uma “Massa Critica” consistente, coerente, exigente e credível, que sirva as Instituições e o Rei, na sua patriótica acção.

Temos a perfeita noção, que sem esta premissa, dificilmente se poderão consensualizar estratégias, objectivos e o próprio discurso, que permitirá a credibilidade generalizada e a consistência exigível. Sem esta premissa, dificilmente será ultrapassada a fase embrionária de todo um Movimento, que tem cada vez mais responsabilidades acrescidas perante a actual degradação política nacional, perante a descrença popular para com o actual regime.

Suscitam-se hoje questões muito importantes.

Interrogações que têm de ter resposta adequada, para que exista a motivação, a militância se quiserem, dos monárquicos.

Para que se crie a possibilidade do sentimento monárquico popular, possa passar a ter protagonismo concreto e este seja devidamente estimulado.

Procuramos ir dando ideias sobre como pode ser possível dar resposta a estas questões.

Procuramos com este texto, encontrar outras respostas possíveis às questões levantadas, num debate sereno e consciente, que tenha como exclusivo objectivo, dar mais consistência e mais dinamismo às Instituições Monárquicas, uma motivação permanente a todos aqueles que sentem este momento de oportunidade, a todos os patriotas cujo descontentamento e desilusão têm necessidade de ouvir e acreditar numa mensagem de esperança.

Não podemos esconder as interrogações, que muitos de nós têm.

Interrogações que nos inibem de dar o contributo desejável.

Por isso entendo que as devo colocar, entendo que devemos exigir respostas aceitáveis.

Não quero, não pretendo, pôr em causa pessoas em concreto, nem Instituições, apenas pretendo que surjam as respostas adequadas ao actual momento e concordantes com o nosso objectivo de Restaurar a Monarquia.

Não discuto pessoas, nem condutas pessoais e se aponto algumas condutas como exemplos, é exclusivamente para demonstração inequívoca de erros essenciais.

Os erros emendam-se, corrigem-se.

Exigir a sua correcção não é atacar ninguém, bem haja a nossa família, por nos ter sempre corrigido nos erros, durante a nossa formação.

Nenhuma ideia ou mensagem é a única, a mais adequada ou a perfeita, assim as minhas também não o são, mas o que é profundamente errado, é não ouvir, não as analisar, não as admitir.

1- É por aqui que levanto a primeira das grandes questões, ao Movimento Monárquico Institucional: A IMAGEM da ORGANIZAÇÂO MONÁRQUICA é limitadora da adesão popular.

É a imagem generalizada de que a Causa Real e as Reais Associações são organizações fechadas, que privilegiam o debate entre os seus membros, um debate pouco criativo e pouco objectivo. Organizações onde há uma dominância social e até política e partidária, pouco activas, dando prioridade, em muitos casos até exclusividade, a acções de natureza nostalgia e religiosa. O debate é normalmente promovido através de jantares, em lugares selectivos, onde à partida não há condições para o aprofundar.

É a imagem generalizada, de que esta Organização Monárquica é dominada pelo pretensiosismo e pela vaidade.

É a imagem de que a Organização Monárquica é uma elite, auto proclamada como tal por si própria e não pelo reconhecimento.

A toda esta questão eu tenho uma resposta possível e mais desejável. Não pela mudança das pessoas ou das Instituições oficiais, mas sim pelo surgimento de outros Movimentos Monárquicos, Regionais e Locais. Onde surja uma outra imagem de contraponto, onde surja uma nova exigência e muitas outras pessoas, que enriquecerão no futuro a própria Organização formal. É a mensagem de uma abertura objectiva, que não põem em causa nada do que está feito, são complementares, são uma forma de adicionar vontades e a qualidade. É também um passo decisivo para a construção da tal “ Massa Crítica “, que será determinante para as respostas adequadas.

Mas o mais determinante ainda…será o surgimento de um verdadeiro Movimento de Restauração, que pela sua estratégia, pela sua capacidade organizativa e aglutinadora, que através de um objectivo viável e credível, una todos os monárquicos e todas as organizações.

Esta Instituição não existe e todos carecemos dela.

2- Uma outra questão muito pertinente tem a ver com a inequívoca Independência das Organizações Monárquicas, em particular relativamente aos partidos políticos.

O Rei é LIVRE e Livres seremos todos Nós.

A tentação de influência e até dominância dos partidos nas Organizações de Intervenção social ou política é uma realidade permanente, a que as Organizações e Instituições Monárquica têm de ter uma muito particular atenção.

Se esta questão é uma verdade indesmentível, sobretudo para quem como eu, dedicou muitos anos da sua vida como dirigente de uma Organização Inter-Profissional, ela assume uma relevância muito especial, em toda a Orgânica Monárquica, onde nunca pode acontecer a mínima das suspeições de uma ingerência das forças partidárias nas suas decisões e atitudes.

Esta questão não pode ser confundida, com a desejável participação generalizada dos monárquicos na vida activa dos diversos partidos políticos e em geral na vida de toda a sociedade.

A primeira exigência para a manutenção desta premissa, é de que nunca poderá haver a coincidência de responsabilidades directivas ou representativas, na mesma pessoa. O seja que deve ser condição para se assumir a responsabilidade de ser dirigente monárquico, não o ser de um partido político, ou não ocupar nenhuma função nos órgãos nacionais dos partidos ou do Estado Republicano.

Os dirigentes monárquicos darão assim a resposta correcta a todas as tentativas de influência ou de manipulação, de imagem exterior, coincidente com a sua ideologia, manifestando assim que no exercício do cargo monárquico, é ao objectivo monárquico que darão sempre a prioridade, quer nas posturas como nas atitudes.

São os Dirigentes que são os portadores da imagem de Independência e também os monárquicos aderentes que devem ser livres de participar politicamente de acordo com as suas convicções ideológicas, sendo certo que o objectivo da restauração só será possível quando entre eles estiverem com forte representatividade todas as forças políticas presentes na luta partidária.

Argumentarão alguns, com a simplicidade de quem não quer, que essa independência seja uma realidade:

Só o Rei tem de ser LIVRE e INDEPENDENTE.

Como se, ser Rei na era moderna, não exigisse todo uma estrutura de apoio e de aconselhamento, em que todos devem garantir a mesma independência e a mesma liberdade.

O Rei moderno é uma Instituição, personalizada por quem tem esse direito histórico, mas que inclui toda uma estrutura composta por muitas outras pessoas, que também devem ser exemplo da isenção e da independência. A credibilidade da independência do Rei, da sua isenção, nunca poderá ser posta em causa, por aqueles que fazem parte da Instituição Real e estão ao seu serviço. Eles serão também o garante indispensável, para que nunca seja possível a influência de terceiros, muito menos ao controlo ou manipulação.

Nunca nos poderemos esquecer de factos históricos relevantes, antigos e mais recentes, em que foi a tentação fomentada pelos partidos políticos, que têm a facilidade de acenar com outros sonhos de oportunidade pessoal, que originou derrotas gravíssimas, de oportunidades e de organizações, que levaram á sua derrota ou ao seu desaparecimento.

Toda a Organização Monárquica deve assumir a mesma postura de Independência do Rei, por razões muito objectivas:

- Para que não haja nunca nenhuma dúvida, sobre a sua Independência, na sociedade e em nenhum português.

- Para que nunca haja essa dúvida, em nenhum partido político, muito menos essa acusação.

- Para que a coerência ideológica, nunca seja posta em causa

- Para permanentemente resistir, às tentações de dominância partidária.

- Para que, as suas mensagens e acções, tenham muito mais audiência, crédito e receptividade.

“ Se o Juramento de Fidelidade ao Rei é uma exigência de filiação, para a adesão como filiado numa Real Associação, o Juramento da exclusividade na acção política, também deveria ser uma exigência para a tomada de posse, de qualquer Dirigente da Causa Real ou duma Real Associação.”

3- A pouca consistência da mensagem monárquica, é a mais difícil barreira de ultrapassar a acomodação evidente nas Organizações e nos aderentes.

A Causa Real ainda não assumiu o protagonismo que lhe era exigível.

A oposição ao regime republicano, é muito fortuita e muito pouco activa.

Não há uma consensualização de uma estratégia, nem tão pouco esse debate.

Apenas acusações normalmente protagonizadas individualmente, muitas vezes avulsas.

Os Dirigentes Monárquicos, são pouco conhecidos e muito pouco interventivos.

Não há uma estratégia de permanência nos órgãos de comunicação social.

Existe uma permanente acomodação do lado monárquico, expressa na inactividade e inépcia das suas Estruturas, que deriva de um estado espírito muito pouco objectivo, que pode ser sintetizado, numa frequente frase … a República está em agonia e portanto tem os dias contados… como se isso fosse uma verdade, como se isso fizesse cair do céu a oportunidade, como se isso não fosse simplesmente uma triste postura de inércia e de acomodação.

As próprias Organizações Monárquicas não têm uma visão, nem uma estratégia de implantação no tecido social … em muitos casos funcionam em capelinhas de alguns, que desmobilizam a vontade de muitos outros.

A intriga, é ainda hoje uma lamentável verdade, corrosiva do interesse geral e arma de preferência entre muitos monárquicos, que através dela apenas defendem os seus pequenos interesses pessoais. Muita análise e muito do debate é morto á nascença através desta arma.

A desculpa dos Dirigentes, para a acomodação e falta de dinamismo, é normalmente a acusação de ausência de militância ou de meios, mas esquecem a sua responsabilidade, pois é deles que depende em larga medida, a critica que fazem.

A acomodação e a inoperância, é originada, pela ausência de um discurso e duma estratégia motivadora.

Se a mensagem for credível e se for ouvida, as dinâmicas logo surgirão.
Não é compreensível este estado de inactividade, perante a visível carência social de uma mensagem de esperança e perante a descrença generalizada para com o actual regime republicano.

Este espartilho da Organização Monárquica, não é passível de ultrapassar, com a substituição de pessoas.

O Debate Estratégico tem de acontecer.

Um Congresso, onde sejam apresentadas as teses e seja feito esse debate, pode e em meu entender e deve ser uma proposta a ponderar. A consensualização estratégica, é uma premissa da Unidade e da força de todo um Movimento.

Para mim a mais incrível surpresa que tive, foi a de ter verificado, que a mais profunda reflexão estratégica publicada até hoje por um eminente dirigente monárquico, não era do conhecimento da maioria dos outros dirigentes monárquicos. O manifesto monárquico para o século XXI, escrito pelo Dr. Manuel Abranches do Soveral.

Não pode o Movimento Monárquico português, continuar a defender esta simples contradição… É pela razão, pela verdade do nosso ideário que iremos restaurar a Monarquia…e simultaneamente desprezar as mais profundas e fundamentadas achegas, que lhe são facultadas pela generosidade de outros.

Não pode ainda o Movimento Monárquico português, insistir na sua presunção de conhecimento, quando não aprecia, não lê, não ouve, a mensagem cultural do povo português, tomando uma atitude de ausência nas mais tradicionais manifestações da tradição e da homenagem histórica .

Não pode o Movimento Monárquico português dar uma atenção preferencial à mentalidade citadina e até estar sujeito a ela, quando sabe que não é aí o seu campo de mobilização mais objectivo, pois a reserva de valores monárquicos e patrióticos, estão mais enraizados no interior de Portugal e nos meios rurais.

Numa tentativa de deixar uma mensagem positiva, para uma abordagem, ponderação e divulgação da temática monárquica, lançámos uma iniciativa que é simultaneamente um desafio, para serem seguidas em muitos outros lugares. Criamos os “Serões Monárquicos” de Almeirim, que organizados com periodicidade regular, podem ser informais pontos de encontro e de debate, que pela adesão já expressa tudo indica virem a ser uma forma adequada de motivação.

Pensamos que através de caminhos semelhantes a este, se pode alcançar excelentes resultados.

Estamos convictos que D. Duarte entenderá esta perspectiva e não a deixará de acarinhar.

4- A liderança de D. Duarte Pio de Bragança, é uma indiscutível premissa do Movimento Monárquico, mas também sobre ela existem dúvidas, que não podem continuar a prevalecer.

Por ser entre todas a questão mais delicada, ela nunca é abordada com abertura e frontalidade. Apenas em conversas surdinas, mas que não impedem a existência de um conjunto de dúvidas públicas, de enorme importância.

Ter a coragem de as abordar não é nenhuma traição, nem falta de respeito, muito pelo contrário. O que tenho ouvido generalizadamente à boca pequena, isso sim, transmite uma generalizada ausência de convicção que está muito na base da falta de confiança e motivação dos monárquicos.

São frequentes as frases … ” depositamos as nossas maiores esperanças em D. Afonso “; “ É nos Infantes que podemos vir a ter esperança”; “ D. Duarte dá preferência à sua família “; “ D. Duarte está prisioneiro “; “ D. Duarte é incapaz de dar um murro na mesa”; “ D. Duarte desperdiçou a boa imagem que o casamento lhe veio dar”; “ D. Duarte não acredita”….

Tudo isto são incoerências, muitas vezes desculpas e não só não são mensagens aceitáveis, como tão pouco são reais ou verdadeiras, muito menos fazem sentido.

Todas as observações relativas à personalidade de D. Duarte e sobre a sua hipotética carência de condições, para a liderança do Movimento de Restauração, são profundamente erradas.

Na minha opinião elas resultam de uma análise incorrecta da prioridade.

Se a prioridade estratégica fosse o estímulo do sentimento popular…dificilmente encontraríamos melhor personalidade que a de D. Duarte para o fomentar. Ele e sua família.

D. Duarte pode não ter o dom da oratória, mas tem a vocação ideal, para o actual momento histórico.

A sua simplicidade é apaixonante e isso seria mais do que suficiente para desempenhar a sua função histórica.

Então porque aparenta hesitações nesta acção?

A primeira dúvida, é se é ele o responsável por essa aparente imagem.
Estou convicto de que não. Estou convicto que o problema passa mais uma vez pela natureza de toda uma teia, que tem como argumento a sua preservação e como resultado o seu isolamento.

O Rei è Livre e livres seremos nós.

O Rei terá de ter confiança absoluta na informação que lhe chega e uma convicção consolidada sobre a previsão dos resultados da sua acção.

O Rei tem de ter um Conselho Real, da sua confiança e com uma representatividade social e regional abrangente.

Este Conselho tem de ser um órgão autónomo da Organização oficial. Pois tem de assumir a sua vocação de ser o eco das aspirações sociais, que permita uma informação permanente e actualizada do Lider.

Tem de ser o conselheiro da acção do Rei, um instrumento de apoio permanente que vai muito para além de um órgão que reúne com periodicidade larga e com dificuldades normais de abordagem da necessidade de actuação do dia a dia.

Meios financeiros, disponibilidades? Na era informática, muito poderá estar facilitado, muita despesa poderá ser dispensada, muito tempo poderá ser poupado, muito mais operacionalidade poderá ser adquirida.

D. Duarte de Bragança também tem estado sujeito à progressiva transmissão, de uma imagem menos favorável, de não ter a determinação exigível.

Não creio que isso seja verdade, não creio que seja possível, que o seu sentido de responsabilidade de ser o Herdeiro e Símbolo da nossa nobre História, possa estar afectado.

Do que provavelmente carece, é de apoio e motivação.

A atitude tão generalizada de servilismo e bajulação, quantas vezes sinónimo de ausência de sinceridade, dos mais astutos adeptos da intriga, não é uma atitude aceitável como instrumento de apoio de um Rei moderno.

Por último, o registo de uma provável carência, que poderá ser inibitória da sua histórica função.

Para o exercício da sua função não basta ser Independente e Livre. Todos sabemos que o é.

Também é fundamental que seja independente financeiramente e que lhe sejam facultados, os meios indispensáveis, para o exercício da sua missão.

Esta é uma responsabilidade exclusiva da Causa Real e das Reais Associações.

Almeirim, 22 de Setembro de 2009
José J. Lima Monteiro Andrade